Seca
Abastecimento por caminhões-pipa cresce 11% em Pelotas
Em apenas quatro dias, Sanep recebeu o pedido de 21 famílias de comunidades quilombolas e da Colônia São Francisco; é um dos efeitos da estiagem
Jô Folha -
A estiagem que atinge o Rio Grande do Sul mostra reflexos também no abastecimento de água. Em Pelotas, o Sanep recebeu, somente em quatro dias, 21 cadastros feitos por famílias de comunidades quilombolas e da Colônia São Francisco, todas na zona rural, que viram as fontes naturais secarem pela falta de água e agora dependem do caminhão-pipa. A escassez de chuvas fez aumentar a demanda em 11,12% este mês, passando para 400 abastecimentos, em cerca de 60 localidades de sete distritos.
Na sexta-feira, a reportagem acompanhou uma das rotas feitas pelo Sanep, com saída da Estação de Tratamento Sinnott, passando pelo Monte Bonito e o Umbu. Em uma manhã, cinco caminhões percorreram as estradas de chão batido do interior para distribuir 70 mil litros de água. Na primeira parada, na estrada do Passo do Pilão, foram deixados mil litros de água potável na casa da aposentada Sirlei das Graças Botelho Schafer. Ela solicitou o abastecimento após ver a fonte natural seca. O volume deixado na residência tem que durar 15 dias até a próxima visita, o que corresponde a 66,67 litros diários. Como são sete pessoas, cada uma conta com 9,4 litros para gastar diariamente. "Nós diminuímos o tempo no banho. A louça é agrupada e lavada de uma vez", disse a dona da casa.
Dez quilômetros dali, já na localidade do Umbu, o aposentado Ari Becher, 79, conferiu o abastecimento da caixa de cinco mil litros. Antes ele pegava água de um poço artesiano próximo, mas a propriedade foi vendida e agora depende do caminhão-pipa. Para garantir que o abastecimento dure duas semanas, precisou reduzir as regas das plantas que tem na varanda e da pequena a horta no quintal. "Eu acho que o arroio não seca, mas mesmo assim tento não desperdiçar."
Há nove meses, a confeiteira Carmem Geneci Mota Dias, 62, foi morar no distrito de Monte Bonito, pela estrada da Gama. Logo no início, a fonte natural de água era de um poço artesiano próximo, mas com a estiagem, o local foi isolado. Sem possibilidade de outra fonte, a alternativa para manter a casa com cinco pessoas abastecida foi fazer o cadastro no Sanep. São cinco mil litros garantidos pelo caminhão-pipa duas vezes por mês, o que exigiu mais rigor no manuseio do líquido. "Lavo a louça em uma bacia com água quente e o que sobra serve para lavar a calçada. Já a primeira lavada de roupa com sabão, o que sobre vai para o vaso sanitário ou para passar um pano no piso. O banho é rápido e com intervalos do chuveiro ligado e desligado", relatou. Rotina que deveria ser adotada pela população em meio à estiagem.
Abastecimento
De acordo com o coordenador de distribuição de água do Sanep, Felipe Rodrigues, são 360 cadastros fixos, cujas casas são abastecidas quinzenalmente com até cinco mil litros. Com a falta de chuva, os pedidos foram aumentando e caso a previsão não mude - tempo bom previsto em Pelotas até domingo - a tendência da rota dos pipas é dobrar. "Por mês são quatro milhões de litros de água distribuídos em residências, escolas, casas de acolhida, comunidades quilombolas e mais recentemente, na aldeia Caingangue", disse o chefe do Departamento de Águas, Alexandre Duval Correa. No Posto Branco, o abastecimento é diário, com a distribuição de cerca de 1,6 milhão de litros.
Sobre o total de cadastrados fixos, independentemente da estiagem, o coordenador Felipe Rodrigues explica que na zona rural não há rede de abastecimento - apenas uma parte dela é abastecida pela Estação de Tratamento de Água (ETA) Quilombo e do Sinnott- e muitas famílias não têm condição de investir na construção de um poço artesiano. Para se cadastrar, a pessoa deve apresentar o comprovante de que é uma propriedade rural e, ao entrar em rota de abastecimento, será gerada uma cobrança mensal de 26,90. O contato pode ser feito pelo WhatsApp, através do (53) 98417-0008, ou pelo telefone (53) 3026-1144.
Estiagem
Segundo levantamento da Emater, na Zona Sul do Estado são mais 850 famílias atingidas pela falta de chuva e que recebem apoio da prefeitura através de caminhões-pipa. Pelotas já decretou situação de emergência e aguarda juntamente com as cidades de Candiota, Canguçu, Pedro Osório, Piratini, Santana da Boa Vista, Santa Vitória do Palmar e São Lourenço do Sul pela homologação do documento por parte do governo federal. Os municípios de Amaral Ferrador, Arroio Grande, Herval, Jaguarão, Morro Redondo, Pedras Altas, Pinheiro Machado, Rio Grande e São José do Norte já estão habilitados a solicitar recursos federais para amenizar os efeitos da estiagem. Somente na agropecuária da região, estima-se que os prejuízos ultrapassem R$ 1,895 bilhão. Para a região, a chuva deve chegar nesta segunda-feira, através de pancadas e possíveis trovoadas, segundo informou o Centro de Pesquisas e Previsão Meteorológica da Universidade Federal de Pelotas (CPPMet/UFPel).
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